Nostradamus e as profecias do pós-dito

Muitas pessoas acreditam em profecias. Especialmente as religiosas. Mas o que são profecias? Como são feitas? Quantas delas realmente se co...

Muitas pessoas acreditam em profecias. Especialmente as religiosas. Mas o que são profecias? Como são feitas? Quantas delas realmente se concretizaram?

 

Teoricamente, profecia é a capacidade de se relatar algo que vai acontecer no futuro. Seja através de um dom, da visita de um ser sobrenatural ou induzida por transe ou drogas, algumas pessoas se dizem capazes de prever o futuro. A Bíblia está repleta de profecias. Mas o problema delas, é que tanto as profecias relatadas quanto os fatos que ela supostamente previu estão submersas na bruma do passado, ficando difícil hoje atestarmos sua veracidade. Pode muito bem ter ocorrido de que os fatos precederam as lendas da profecia relacionada com eles, mas que as previsões tenham sido consagradas como reais com o passar do tempo.

 

O Terceiro Segredo de Fátima

Vejamos um caso mais recente de uma suposta “profecia”. Em 1917 a Virgem Maria teria aparecido para três crianças portuguesas e relatado três segredos. Os dois primeiros diziam respeito basicamente a uma descrição do inferno e um ataque à nascente Rússia comunista. O terceiro segredo foi guardado durante décadas e só foi revelado na virada para o século XXI pelo Papa João Paulo II. A “profecia”, no entanto, dizia respeito a um fato que já havia ocorrido — o atentado de que ele fora vítima em 1981... De clara mesmo, a suposta profecia não tem nada, e provavelmente os clérigos só a entenderam e ligaram uma coisa com a outra, quando o atentado aconteceu.

 

Nostradamus, o profeta do pós-dito

Michel de Notre-Dame, mais conhecido como Nostradamus, nasceu na França em 1503. Em 1555 ele pública as Centúrias, uma coletânea de quadras enigmáticas que até hoje faz muito sucesso entre os esotéricos e místicos.

A segunda edição das Centúrias foi publicada em 1558 e dedicada ao rei Henrique II, a quem Nostradamus desejava “uma vida feliz”... Henrique II morreu no ano seguinte de um ferimento sofrido em um torneio de justa.

Isso já seria suficiente para se questionar o talento premonitório de Nostradamus, correto? Seria, se os seus adeptos não fossem tão benévolos com o suposto visionário. Eles encontraram indícios de “previsão” da morte de Henrique II numa das quadras de Nostradamus. Henrique II morreu atingido pela lança do conde de Montgomery num torneio festivo na França. Eis a suposta profecia relacionada a este acontecimento:

 

O jovem leão o velho derrotará;

No campo bélico por duelo singular;

Em elmo de ouro os olhos lhe furará;

Duas feridas em uma, depois morrer, uma morte cruel.

O curioso é que estas supostas profecias não dizem nada, a não ser depois que algum evento tenha acontecido e sido relacionado a elas. É sempre a posteriori que previsões similares a esta são feitas. Vejamos, por exemplo, o caso da queda das torres do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Esse evento catastrófico e importante estava bastante claro nas profecias de Nostradamus. Mas apenas a partir de 12 de setembro de 2001...

Norman Baillargeon em seu livro Pensamento Crítico mostra como o caçador de paranormalidades James Randi analisa a quadra acima sobre o rei Henrique II:

 

• Falar em jovem e velho é duvidoso neste caso, pois os dois tinham apenas poucos anos de diferença;
• Campo bélico refere-se a campo de batalha, mas não designaríamos dessa forma um lugar em que acontece um torneio de cavalaria, que é uma competição esportiva;
• “Elmo de ouro”: nenhuma armadura ou elmo é feita de ouro, porque se trata de um metal mole;
• “Os olhos lhe furará”: nenhuma testemunha ou escrito da época fala em olho furado;
• “O leão”: ainda não era, nem havido sido antes e não seria depois o emblema dos reis da França.

 

Ou seja, a “previsão” de Nostradamus não passa de uma bela forçada de barra dos esotéricos. Mas isso nos deixa uma boa lição, caso você queira um dia bancar o profeta: utilize palavras vagas e construa frases obscuras, enfeitadas e sem muita objetividade: sempre será possível encontrar alguém para entrever algo nisso e extasiar-se com seus maravilhosos dons sobrenaturais.

 

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